Paraísos artificiais
Perfumes que exploram o artifício + novas datas do Curso Alfabetização Olfativa em 07.12 e 08.02.2025.
Oi e bem vindo ao 1 nariz! Se você chegou até aqui e ainda não está inscrito, vou te ajudar com isso:
Antes da gente começar, só um lembrete:
CURSO ALFABETIZAÇÃO OLFATIVA: NOVAS DATAS
sábado dia 07.12 e também 08.02.2025, ambos com inscrições abertas;
desconto de R$88 para inscrições antecipadas;
clique aqui para valor, programa completo, fotos e inscrições.
Paraísos artificiais
Fazer um bom retrato da natureza é um feito, ainda mais quando o assunto é perfume. Mas também gosto quando o perfumista corre para o outro lado e faz um elogio do sintético, do construído. Chanel supostamente pediu a Ernest Beaux, criador do No 5, "um perfume artificial". No sentido do artifício, daquilo que é pensado, da beleza que pode ser construída com a mão do homem. Perfume, assim como as roupas que ela criava, não nascem da terra.
O mais estranho e maravilhoso da categoria é o Comme des Garçons de 2011, cujo frasco parece que foi ao forno e derreteu. O início é gelado e estéril como um corredor de hospital, cheira químico, técnico, como o cheiro de ar condicionado cheira químico. Você precisa de alguns momentos para localizar essa memória do cheiro como algo entre o plástico que embala um livro, e fita adesiva transparente de fechar caixas. Deixando a coisa rolar na pele e ele se afasta desta explosão num laboratório e chega mais perto de um floral transparente, mais especificamente um lilás. Como uma flor que resistiu ao fim dos tempos, a definição de achar beleza no mais inóspito.
Um caminho pop e cor de rosa, na direção das balas e chicletes, dá para encontrar em marcas diferentes. Kriska, da Natura, mostra a beleza de uma bala sabor artificial de morango. É uma rosa pop e pink, macia, mega confortável e com uma doçura sob controle — simples, direto ao ponto. Não é o seu perfume cerebral mas uma boa e velha gargalhada. Insolence Eau de Toilette (Guerlain) consegue juntar a ponta da herança e tradição da marca com este apelo cor de rosa, saturado e tão atual.
Maurice Roucel constrói um buquê floral com as mesmas espécies de L'Heure Bleue, de 1912, com destaque para o heliotrópio e para a violeta. Estamos tomando umas paralelas do território comestível: primeiro pelo amendoado do heliotrópio, depois pela violeta, cuja pétala é vendida açucarada, cujo sintético é matéria prima de diversos aromas artificiais. Se em L'Heure Bleue o efeito é talcado, construído por acúmulo, de uma grandiosidade barroca, em Insolence Maurice Roucel apara todas as pontas para fazer um clima moderno, que nos lembra de balas e chicletes e seus sabores feitos em laboratório (aliás o mesmo laboratório que faz os perfumes). É daqueles perfumes com difusão maior que tudo.
Fecho com Gucci Rush, talvez quem tenha levantado essa bandeira primeiro. É mais uma rosa recoberta por um mundo sintético. A borrifada é aguda, parece um guincho, lembra spray de cabelo e caixa de plástico — ajuda muito que o frasco é um retângulo deste material, entre uma fita cassete e um VHS (use o Google se tem menos de 30 anos!). Com o uso fica cada vez mais confortável, macio, super confortável, quase cremoso, com sândalo, rosa e baunilha, num arco surpreendente.