Perfume sempre pensa em corpo de algum jeito — pelo menos ali nas notas de fundo, algo tem que fundir com a pele, de um jeito mais animal ou mais fantasia. Semana passada contei como um date mostrou que minha idéia de perfume atraente mudou, e como minha vontade de usar perfumes também se transformou na saída da pandemia. Ambas para um caminho de menos produção e mostrar mais o corpo.
Na sequência desta jornada, trago três perfumes que entram no assunto corpo sem firula, e colocam o tema no centro da composição. E, semana que vem, três amigos contam para a gente o que os atrai no perfume do outro. Clique no botão para comentar, vou passar ali ao longo da semana para ler e bater papo.
1 abraço,
—Dênis





Curso Alfabetização Olfativa
Uma apresentação profunda de perfumaria em que você vai aprender a ligar o nariz com o cérebro na prática, como um perfumista, através de 51 ítens entre matérias primas naturais, sintéticas, perfumes clássicos e contemporâneos. É para apaixonados por perfumes, quem trabalha ou quer trabalhar na área, sem pré requisito para participar.
29.04.2023, sábado, das 14 às 19:30.
Desconto de R$88 para inscritos até dia 18.04, terça que vem!
Acontece em São Paulo e tenho 19 lugares.
O curso está confirmado e acontece com qualquer número de inscritos (costuma lotar).
Inscrições, valor, programa completo e dúvidas comuns: clique aqui.
Perfumes: quando o assunto é corpo
Amyi, 3.17.
Amyi conta sua historinha sobre pele nessa última leva de lançamentos. Ela é crua, sem embelezamento, tratada com verdade. O que aparece primeiro é uma impressão salgada, como é salgado o suor, junto com algo picante, que lembra cominho e couro ao mesmo tempo. Com o uso fica mais evidente uma nota ambarada, oleosa. É uma história sobre sexo e cheiros privados, em várias nuances. Não tem nada parecido por aí. É tudo feito com pouco peso e registra abstrato, conceitual, o que facilita o uso para quem não está a fim de um pé na porta. Ponto alto desta marca brasileira que não completou 4 anos.
Dior, Leather Oud.
Borrifei Leather Oud para escrever e acabo de me lembrar porque meu coração é dos perfumes orientais. São complexos, quentes, ricos, apaixonados, cheios de nuances. Leather Oud é um couro sofisticado e cheio de veneno. Oud pode ter uma fragrância brutal na sua complexidade — é uma madeira do sudeste asiático que foi infectada por um fungo, que não é letal para a planta. É da infecção e da reação da planta que surge sua fragrância amarga, animal, medicinal, enfumaçada e potentíssima. Aqui ela contrasta com um couro ambarado, com um elemento doce e de especiaria, super refinado, num equilíbrio irresistível. Couro é pele de animal, quer perfume mais visceral?
Cartier, Déclaration.
O estudo de contrastes de Jean-Claude Ellena, de 1998, continua moderno 25 anos depois, e a gente viveria num mundo melhor se isso pudesse ser dito de mais coisas, quaisquer que fossem. Ele revisita essa construção cinco anos depois com Épice Marine, para a Hermès. De um lado o amplo frescor cítrico do cardamomo, solar e energético, do outro a madeira quente e picante do cominho, que não falha em lembrar do cheiro de suor. Ambos em overdose, como dois blocos, mas graças à mágica dessas mãos, consegue ser legível e registra transparente, com uma difusão espetacular. Daqueles perfumes elegantes, com frescor para cortar o calor e coluna vertebral para segurar a noite.
Sumido! Bem-vindo seja. Sentindo falta de alguém que fale perfume inteligentemente, de dentro para fora. UFA!
Que maravilha ler você aqui. E de novo: quero repetir o curso para poder sentir esses aromas todos.