Uma vibe silvestre

Dois perfumes com inspiração silvestre exploram caminhos diferentes + Curso Alfabetização Olfativa em 02.12

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Tenho curtido usar florais leves, solares, primaveris, que nunca foram minha cara. Talvez para curar o ressacão brabo do isolamento social? Eles tem uma noção de natureza menos fabricada que um floralzão — e a gente usa todo o que pode já que não dá para (nem quer) morar no mato.

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Photo by David Vig on Unsplash

Uma vibe silvestre

Coisas semelhantes são criadas ao mesmo tempo em pontos distintos, por pessoas diferentes. Já aconteceu com o avião, que dependia de tecnologia, com perfume não ia ser diferente, mesmo que dependa de outra coisa. Pode ser uma prova que as idéias circulam no ar quando está tudo pronto para que elas aconteçam.

Estou pensando em dois perfumes específicos, que pegam a mesma vontade e exploram de maneiras diferentes. E é uma vontade de natureza, de lugar aberto, de beleza, uma energia de primavera, uma noção de silvestre. Os dois giram em torno de flores com cheiros que se conversam via um amendoado/talcado em comum. Eles partem deste mesmo ponto para desenrolar a conversa por caminhos distintos.

Se Flora Salvaggia (Guerlain) fosse de uma marca com identidade brasileira, ia constar pata-de-vaca na lista de notas. Como não é, consta lilás, flor de um arbusto de clima temperado, que tem esse cheiro delicado, amêndoado, talcado, que lembra um pouco violeta. 

Flora Salvaggia explora uma ideia de frescor, de caminhar sob as árvores num dia de sol, sentindo a umidade, e chegar uma brisa floral. No perfume a umidade aparece num verdor na borrifada e numa nota aquática de longa duração — esta nota em combinação com o acorde floral aproxima o resultado do perfume da pata-de-vaca, uma referência possível no nosso clima dos trópicos. Fecha a coisa toda um acorde macio de almíscar, com algo mineral aparecendo aqui e ali. É ensolarado, otimista e um pouco romântico, para lembrar que sonhar nunca é demais nestes tempos bicudos.

O segundo perfume é A Drop d'Issey (Issey Miyake), que explora o heliotrópio, cujo cheiro é semelhante ao lilás. Só que mais: mais talcado, mais amendoado, com algo cremoso — e é esta pista que Drop vai explorar. É um perfume leitoso, que faz carinho e cria uma extensão da pele de quem usa, sem perder esse elemento floral, silvestre. Testei Drop rapidinho numa loja e já abriu meu olho, em breve volto com mais notícias.

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