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Faz 15 dias que a Vânia Goy me chamou para redescobrir os perfumes da Aesop. A marca possui 8 fragrâncias, das quais 5 estão disponíveis nas lojas nacionais. Marrakech, que possui legiões de fãs, tem, mas acabou. É aquele produto intermitente que nunca está em estoque.
O mais legal de uma panorâmica como esta é que dá um corte do estilo da marca, quando a gente topa com essa qualidade mais rara, que é um ponto de vista. E aqui tem um.
Lá conheci uma amiga virtual, a Magô Tonhon, que fala de perfumes aqui no insta. Para dar conta da minha mãozinha ansiosa, fui logo explorando o que estava no balcão. Sem borrifar para não queimar a largada, fui farejar a válvula e a tampa, que dão uma ideia vaga da metade para o final do perfume.
Mais à esquerda estava Rozu, uma rosa cheia de sândalo, com um brilho floral gostoso. Tudo muito bonito, mais uma rosa para o universo. Nesta primeira passada também me chamou atenção o último. Ali na válvula senti o cheiro de madeira molhada, apodrecendo, azeda e fermentada, francamente estranho naquele lugar e impossível de passar batido. Este coração aventureiro aqui bateu mais forte. Jogamos uma conversa por ali, beliscamos castanhas e partimos para os perfumes.
Rozu é um floral com a rosa no centro, combinada com ylang ylang, que joga uma luz tropical nos perfumes. Na borrifada notamos um mentolado incomum de shiso: é uma erva japonesa com as folhas grandes, serrilhadas, com sabor parecido com o hortelã (às vezes se acha na feira, em alguma barraca de feirante japonês, ou vem junto com o sashimi, num arranjo com o nabo).
Eremia é vegetal, herbal, resinoso, cheio de energia e vibração. Me parecia que seguiria por esse caminho refrescante mas na pele apareceu uma íris muito chic, talcada, amanteigada e alegre, o que é um feito. Eremia é como se a matrona de Chanel No. 19 tivesse tomado mais sol na infância.
Tacit segue num espírito de refrescância muito gostável, por uma via verde e vegetal, com menta e cítricos. Não é à toa que é o mais vendido da marca. Sobre Hwyl já rasguei toda a seda neste texto aqui, é meu grande favorito: uma paulada de olíbano e cipreste, ao mesmo tempo enfumaçado e pinhoso, como fumar um cigarro num bosque.
Miraceti foi o último. Cada vez que passávamos o frasquinho para o lado aumentava o tom de voz, a gente tentando definir aquilo, em um instante falávamos um por cima do outro, gostamos ou não gostamos?, custando a entender onde aquele cheiro azedo ia parar, até que tropecei no equipamento de luz atrás de mim. Foi outro que se transformou na pele.
Em alguns minutos aquela brutalidade animálica amansou e Miraceti se deixou ser gostado. Algo defumado surgiu, ficou ambarado, tudo de um jeito delicado e atraente, que te pega pelo nariz. É aquela fotografia olfativa de um homem mítico: do charuto se sente o tabaco, um copo de rum na mão direita... Essa cena perfume já foi feita e refeita, e me pega mesmo com uma execução média. Aqui o resultado é bem mais que médio, mais comedido, rente à pele, sem o couro (da poltrona). Foi este que usei de corpo inteiro.
E me prometi voltar para usar Rozu, que passou no teste mais difícil, que é o teste da mão. A cada distração nossa, a cada tangente e pausa para tomar um chá, minha mão ia sozinha buscar o vidrinho onde Rozu foi borrifado. Mesmo que neste teste rápido tenha registrado apenas como uma bela rosa.
Dias depois me peguei pensando: o que costura todos os perfumes, o ponto de vista da marca, é uma ideia de coisa orgânica, meio descabelada, construída para não parecer construída, como um jardim depois das chuvas, com tudo crescido para fora dos canteiros.
A Aesop foi vendida da Natura para a L'Oréal, que tem um histórico comercial bem agressivo. Se ficou curioso para conhecer algum perfume ou se sua vida depende de algum deles, é melhor se organizar.
fiquei muito curiosa em testar o Rozu pela sua descrição! amo rosa e patchouli e agora que soube que tem shissô então...
nunca ia imaginar essa folhinha tão saborosa, que descobri num tekamaki de atum hahaha, fosse aparecer num perfume! mas claro, ela é super aromática e mentolada...por isso perfumaria é tão incrível
Obrigado pelo texto, Dênis! Gosto de me perder em um jardim pós-chuva! Me traz cheiro de liberdade, conforto e aventura! Deveriam criar o perfume dora aventureira for men!